terça-feira, 29 de setembro de 2015

Os Leporinus: Piaparas, Piaus e Piauçus.





Os Leporinus são um gênero de peixes que pertencem à família Anostomidae, que comporta um grande número de espécies. Os peixes deste gênero tem como característica a dentição que é parecida com a de roedores como o coelho e o rato. Os principais representantes são a Piapara (também chamada de Piava em regiões como o Nordeste, Rio Grande do Sul e algumas regiões de Minas Gerais, ou Piau-verdadeiro para os ribeirinhos do rio São Francisco), o Piauçu, o Piau-três-pintas, a Ferreirinha (também chamada de Piava-vermelha ou Piau-Flamengo) e o Aracu, representante amazônico deste gênero. Falarei aqui mais sobre as três primeiras, que além de pertencerem à bacia do Rio Paranapanema, são espécies muito esportivas.


PIAPARA (Leporinus obtusidens - Bacia do Prata) e (Leporinus elongatus - Bacia do São Francisco)



Peixe de escamas, pertencente à bacia do Prata, Paraguai e São Francisco. De coloração prata-amarelada, com grandes pintas laterais. Seus dentes, como os do piauçu e do piau, são incisivos e lembram os de um coelho. Seu nome vem do tupi-guarani, que significa "peixe de rio". Alimenta-se de pequenos vermes, matéria vegetal, insetos e frutos. Possui a boca situada abaixo do nível dos olhos, tendo como principal diferença dos piaus e piauçus seu focinho e lábio carnudos. São peixes de piracema, se reproduzem no verão, durante o período de chuvas, quando ocorrem as cheias dos rios, e as lagoas marginais propiciam o crescimento dos alevinos.


Sua pesca é tida como extremamente esportiva, quando fisgada, costuma brigar muito, devido ao enorme fôlego, aliado à sua força e rapidez, tomando vários metros de linha, dando muita emoção ao pescador antes de se entregar. Alguns exemplares costumam saltar fora d'água, recebendo o apelido de "voadeiras" em algumas regiões.




É um peixe extremamente manhoso, arisco e muito desconfiado, sendo que ao menor barulho, as chances de captura diminuem. Para se ter sucesso na sua pescaria, deve-se fazer uma ceva, misturando ingredientes como milho seco, quirera de milho, milho azedo, farelo de milho, farelo de arroz, soja azeda, sangue de boi, mandioca, dentre outros. Se a pesca for apoitada, deve-se usar um cevador (foto), que vai liberando aos poucos a ceva. Se a pescaria for de barranco, deve-se colocar tudo dentro de um saco de cebola ou café, amarrá-lo e soltá-lo no local de pesca. Pode-se também amarrar espigas de milho num arame com um peso (um tijolo). Deve-se também ir jogando o trato manualmente, de pouco em pouco, ao longo da pescaria.

   


Cevador


A Piapara habita os locais de correnteza, o leito dos rios, canais, poços, e gosta de frequentar as margens. Atinge mais de 6 kg de peso, medindo 80 cm, tendo sido encontrado exemplares no Rio Paraná pesando 8 kg e medindo 90 cm. A captura desses grandes exemplares é um verdadeiro feito e um grande desafio, exigindo experiência, muita habilidade e paciência do pescador. Geralmente é mais comum capturar exemplares em torno de 500 gramas a 2 kg.

Os equipamentos usados vão desde a tradicional vara de bambu, ou telescópica, mais usada nas pescarias de ceva de barranco, até as carretilha e molinetes, com varas de ação média. As linhas mais indicadas são as de 12 a 14 lbs (0,30 mm a 0,45 mm). Deve-se usar uma chumbadinha leve e solta na linha. Os anzóis variam bastante, mas não podem ser grandes, eu gosto bastante do Maruseigo tamanhos 10, 12 ou 14, e do Chinu 3 ou 4. Eu particularmente não uso empate de aço na pesca da Piapara, pois elas refugam. Mas muitos pescadores recomendam para os grandes exemplares.

As iscas variam bastante, mas as mais tradicionais são o milho verde ou azedo, bolinhas de massa, a minhoca, a lacraia d'água, conhecida aqui em Piraju como "bin Laden"(veja foto), o caranguejo, o besouro e o caramujo, que pra mim é a melhor isca para se pescar a piapara aqui.

     A lacraia d'água ou "Bin Laden", deve ser iscado inteiro.

 
Um dos segredos da pesca da piapara está na hora da puxada do peixe, pois a piapara dificilmente pegará a isca e sairá correndo, primeiro ela vai acomodar a isca na boca de maneira suave, para depois disparar. Se a fisgada ocorrer no momento do peixe colocar a isca na boca, as chances de sucesso serão pequenas. Você sentirá pequenos toques na linha, seguido de uma corrida violenta. Quando se sente fisgada, faz a linha cantar, tomando vários metros, neste momento ela procura galhadas e capim na margens (o piau faz o mesmo), podendo arrebentar a linha.

Outra dica é o uso de um stop (que nada mais é que uma borrachinha) que deve ser colocado entre o girador e a chumbada, principalmente na "rodadinha", modalidade também conhecida como "pingadinha" ou "trupicão", onde se vai soltando linha aos poucos, rodando, fazendo o chumbo "pingar" no fundo, isso faz com que a chumbada vá desgastando o nó da linha preso ao girador, e a borracha ajuda a prevenir o rompimento da mesma na captura de um bom peixe. Nesse método, a Piapara costuma parar a linha, seguindo com pequenos toques para depois dar a arrancada.


PIAU-TRÊS-PINTAS (Leporinus friderici - Bacia do Prata) e (Leporinus reinhardt - Bacia do São Francisco)



Peixe de escamas, de coloração prata com três pintas de cada lado do corpo, onívoro, com tendência a carnívoro (principalmente insetos e larvas) ou frugívoro (frutos e sementes pequenas), dependendo da oferta de alimentos. É encontrado em praticamente todas bacias brasileiras, sendo muito importante para a pesca de subsistência e para o comércio de mercados e feiras locais.




















Sua pesca é muito esportiva, sendo um peixe rápido e brigador, vive em grandes cardumes que são encontrados em correntezas, poços e margens dos rios, habitando também os remansos e áreas alagadas. Arisco, frequentador de cevas, é muito comum capturá-los durante as pescarias de piaparas, devido aos hábitos serem bastante parecidos. Também chamados de Piau-cabeça-gorda em Minas Gerais e Bahia. Atingem pouco mais de 1 kg e medem até 40 cm.

Os equipamentos para sua pesca são o material leve, linha entre 0,20 e 0,30 mm, anzol 12 ou um pouco maior. As iscas vão desde o milho verde ou azedo, massa, minhoca, calabresa em pedaços, coração de boi, fígado, etc. Ao ser fisgado, costuma brigar muito, procurando enroscos no fundo ou nas margens.


PIAUÇU (Leporinus macrocephalus)



O maior representante do gênero Leporinus, possui coloração cinza com as nadadeiras amareladas, pode pesar até 10 kg e medir mais de 80 cm. Mas a média dos peixes varia de 1,5 kg à 4 kg. São peixes que vivem em grandes cardumes, que normalmente habitam as margens dos rios, próximos das vegetações das margens como aguapés, camalotes e galhadas, habita também os remansos, baías, bocas de corixos e canais. São onívoros com tendência a carnívoros.

Nativos da bacia do prata, são muito abundantes no pantanal mato-grossense, quando fisgado sua arrancada é muito forte. Piauçus grandes são muito brutos e arrebentam linhas 0,40 mm na arrancada, portanto esteja atento e prevenido, deixando sempre a fricção bem regulada. Como as piaparas, fazem a linha cantar, proporcionando momentos de muita emoção ao pescador.

Os equipamentos podem ser os mesmos usados para as piaparas, as vezes com uma linha um pouco mais grossa e um anzol um pouco maior, dependendo do tamanho dos exemplares. As iscas podem ser o milho, o caranguejo e o filé de peixe, mas eu gosto bastante do coração de boi ou de frango, que deve ser cortado em tirinhas. Como seus parentes, adora procurar uma galhada ou capim nas margens durante a briga.


FERREIRINHA (Leporinus fasciatus)



Quem nunca foi surpreendido por essa esportiva espécie no meio de uma pescaria de lambaris. Conhecidos também como piau-flamengo, são pescadas no verão, com vara de bambu, usando como isca minhoca ou milho.


ARACU (Leporinus sp)


Esse peixe tem grande importância comercial na região amazônica, também conhecido por lá como "pescada".

Vamos preservar a natureza, não jogue lixo na beirada dos rios!!!
Obrigado pela visita, sejam sempre bem vindos!!! Abraço a todos, fiquem com Deus e até a próxima postagem.

sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Tucunaré: símbolo da pesca no Brasil


O Tucunaré seguramente é o peixe símbolo da pesca esportiva brasileira. São peixes nativos da América do Sul, especificamente das bacias do Rio Amazonas, do Rio Orinoco e das Guianas. Foi introduzido nas outras duas principais bacias do Brasil (do Prata e São Francisco), podendo ser encontrado em abundância em inúmeras represas do estado de São Paulo e até no Pantanal matogrossense, em rios como o Piquiri e Itiquira. Também foi introduzido em outras regiões do mundo, como Panamá e Estados Unidos (Flórida e Havaí).

Peixe de escamas, pertencente à família Cichlidae, a mesma dos Jacundás, Tilápias, Acarás e Apaiaris. Muito voraz, brigador, valente e saltador, seu ataque à isca é uma verdadeira pancada, principalmente nas iscas de superfície. O gênero Cichla possui 15 espécies, segundo revisão de Kullander e Ferreira (2006), sendo o padrão de colorido o definidor de separação das espécies. Dentre as mais conhecidas estão o tucunaré-açu, tucunaré-paca, tucunaré-pinima, tucunaré-pretinho, tucunaré-pitanga, tucunaré-fogo, tucunaré-amarelo e tucunaré-azul, estes dois últimos, encontrados aqui na região de Piraju-SP, na Represa Jurumirim e na Represa de Chavantes, formadas pelo rio Paranapanema. O tucunaré-açu atinge até 1,20 metro de comprimento e chega a pesar até 15kg. Já os azuis chegam até 6 ou 7 kg e os amarelos no máximo aos 4 kg.

Durante seu desenvolvimento, há uma oscilação significativa nas cores, como intensidade e padrão. São peixes que cuidam da prole, permitindo um sucesso reprodutivo. Apresentam como principal característica o ocelo na cauda, que serve para enganar predadores, confundindo com um olho.
Na época do acasalamento, nos machos é formado um adorno ou cupim no alto da cabeça.

Gostam de água parada como lagos e lagoas marginais, mas também podem ser encontrados na calha dos rios e trechos de água um pouco rápida, porém a maior parte dos exemplares vai preferir regiões de água calma. Pode ser encontrado atrás de obstáculos, como galhadas, troncos, na sombra durante o sol forte, no meio da vegetação, junto de estruturas como estaleiros, em praias de rios, drop offs e junto aos barrancos. Caçam por emboscada ou perseguição ativa, e são muito determinados na busca por alimento.

As modalidades de pesca variam de acordo com o tipo de pescaria, porte dos peixes e estruturas onde será pescado, As varas mais indicadas vão de 5,6 a 6,6 pés (1,70m a 2,00m), de ação média, rápida ou extra-rápida, sendo preferível as varas de ação rápida, para linhas variando de 10 a 20 lb para os conjuntos médios e 15 a 30 lb para os conjuntos pesados. As linhas devem ser entre 0,30mm e 0,50 mm, atadas com um líder de linha mais grossa, de preferência de fluorcarbono, com mais ou menos 1,80m.

As iscas variam desde plugs de superfície (zaras, hélices, sticks, poppers), de meia-água e de fundo, jigs, spinners, spinnerbaits e colheres. Já na pesca com iscas naturais, a melhor isca é o lambari, que deve ser iscado pelo nariz, pois ele sobrevive mais e nada melhor. Os anzóis devem variar de 2/0 a 6/0. É essencial o uso de uma bóia, definindo o comprimento do chicote de acordo com a posição dos peixes na coluna d'água.
Podem ser pescados também com equipamento de Fly, variando do número 6 ao 9, e iscas como streamers e poppers.

Fala-se muito que o tucunaré acaba com os peixes nativos do lugar que ele se instala, porém isso carece de comprovação científica, mas tenho notado e observado a dificuldade de se pescar lambaris e tambiús na Represa Jurumirim nos últimos tempos, ao mesmo tempo que tenho notado o aumento significativo dos cardumes de tucunarés.







Boas pescarias!!!
Não jogue lixo na beirada dos rios!!!
Pratique o pesque e solte!!!





Minha vida de pescarias

Meu nome é Daniel Pansanato, moro na cidade de Piraju, interior de São Paulo. 
Aqui somos abençoados pelas águas do Rio Paranapanema, e pelos últimos 7 km de corredeiras e calha natural do rio. Por aqui temos inúmeros locais de pesca, vou citar os que frequento, que são mais de 10 pontos, como Ponte Cerqueira, Represa Jurumirim, Pedrinha, Parque do Dourado, AABB, Ponte Nova, Poço da Viúva, Funil, Boca do Monte Alegre, Três ilhas, Enseada, etc. Desde os 4 anos acompanho meu pai nestes locais, sempre pescando com linha e anzol, jamais pescamos com rede ou tarrafa, se bem que na minha opinião isso não pode ser chamado de pesca, mas sim caça. Penso que qualquer tipo de pesca que você tira o direito de briga do peixe é condenável.
Como quase todo mundo, comecei pescando lambaris, e com os anos adquiri certa experiência de pesca no "Panemão", mais especificamente na pesca com iscas naturais, de espécies como Piapara, Piau, Piava e Curimba, ou seja, pescaria em cevas. Em minha vida de pescarias já capturei também Pacu, Piracanjuba, Piraputanga, Piauçu, Cachara, Dourado, Traíra, Dourado-Cachorro, dentre outros. Todos sempre na isca natural. Porém de 2 anos para cá, fui "fisgado" pela pesca com isca artificial. A partir de Piraju, seguindo rio acima, temos a Represa Jurumirim, que possui inúmeras estruturas para a pesca do Tucunaré. No começo optei por tentar os bocudos pescando com lambari vivo. Tive ótimos resultados com inúmeros espécies capturados, vários de bom tamanho, mas devido a dificuldade de encontrar lambaris, e a baixa esportividade desse método, comecei a optar pela pesca com artificiais. Minhas únicas ações em pescarias com isca artificial tinham sido a captura de uma piracanjuba e uma briga com um dourado que acabou escapando. Adquiri algumas iscas como plugs de meia água, crankbaits, colheres, poppers e sticks. De início capturei apenas algumas piranhas. Até que num belo dia de sol, ao chegar no local de pesca, a água estava muito calma e eu conseguia enxergar os tucunarés, alguns aos pares, outros em cardumes. Logo no primeiro arremesso do meu plug de meia-água verde limão, passei ele no meio de um casal, trabalhando mais lentamente, o ataque foi muito voraz, a briga foi bonita, e no final, um belo tucunaré amarelo com mais de 1 kg. Foi o estopim para me apaixonar de vez pelo bait, e ultimamente só tenho pescado nesta modalidade. Enfim, sou um apaixonado pela Pesca, pelos peixes e pela natureza, solto a maioria dos exemplares, e levo para casa um ou outro exemplar para preparar com a família, sempre respeitando as medidas mínimas é claro. Além do Rio Paranapanema, já pesquei no Mato Grosso do Sul, no rio Miranda, no litoral paulista, em rios de montanha no Paraná, etc, sou um estudioso sobre os peixes e sobre informações de pesca, pois pescar é um eterno aprendizado.  Neste blog vou postar relatos de pescarias, informações em geral, dicas e técnicas que aprendi ao longo dos anos. Logo vou adquirir uma GoPro, e quem sabe realizo o sonho de montar um canal de pesca no Youtube, mas por enquanto, seguem fotos de alguns peixes capturados e de alguns locais que pesco por aqui. Abraço a todos, fiquem com Deus e até a próxima postagem. 

Pacu:



Traíra capturada na isca artificial de meia-água:



Tucunaré:



Dourado:


Meu pai e uma bela piapara:



Represa Jurumirim


Corredeiras do Rio Paranapanema



Parque do Dourado



Ponte Cerqueira e meu pai.



"Pescar é a arte de enganar o peixe". Preserve a natureza, não jogue lixo na beirada dos rios!!!